A tísica, “peste branca” ou como a conhecemos atualmente, Tuberculose, assola a humanidade há milênios. Evidências provenientes de múmias egípcias (3000 a 1000 a.C.) demonstram a presença de vestígios dessa importante doença.
Foi somente em 1839, contudo, que Schöenlein (1793-1864) cunhou o termo Tuberculose, a partir dos achados das lesões nodulares (“tubérculo”) em pulmões de doentes que foram submetidos à necropsia.
Embora, com o surgimento da estreptomicina em 1943 e a melhoria das condições de vida das populações, a incidência de turberculose e sua letalidade declinaram, a partir da década de 1980, observou-se o recrudescimento da doença, com o início da pandemia do vírus da imunodeficiência adquirida (HIV). Hoje, em 2023, infelizmente ainda estamos longes de erradicar essa enfermidade, em especial nos grupos de maior vulnerabilidade para a contraírem.
Agente etiológico
A tuberculose é causada pelo complexo Mycobacterium tuberculosis, dentre os quais a espécie de maior relevância para saúde é a M.tuberculosis, conhecida como bacilo de Koch (BK), um bacilo álcool-ácido resistente (BAAR) e aeróbio.
O BK é transmitido por via aérea, a partir de portadores da forma pulmonar ou laríngea da doença.Tais indivíduos, quando apresentam a baciloscopia positiva no escarro são denominados bacilíferos. Estima-se que uma pessoa bacilífera infecte até 15 indivíduos durante um ano. Enquanto houver eliminação de bacilos no escarro, há risco de transmissão. Contudo, é importante salientar que com o início do tratamento, o risco diminui gradualmente, até se tornar desprezível.
Populações de risco
Nem todos apresentam o mesmo risco de desenvolver tuberculose. Sabe-se que mesmo após a inalação de partículas de aerossol contendo BK, o desenvolvimento da doença depende fundamentalmente da resposta imunológica do hospedeiro. Sabe-se que, atualmente, o maior fator de risco individual para Tuberculose é a infecção por HIV. A partir disso, vem a máxima: em todo paciente com diagnóstico de HIV, devemos procurar TB e vice-versa. A taxa de coinfecção TB-HIV no Brasil em 2020 era de 10,2%. Para maiores informações, acesse o Boletim Epidemiológico Coinfecção TB-HIV 2022 do Ministério da Saúde.
Além das pessoas que vivem com HIV-AIDS, outras populações apresentam risco aumentado de adoecimento, como as pessoas em situação de rua (risco 56 vezes maior), privadas de liberdade (28 vezes maior) e indígenas (3 vezes maior).
Busca Ativa
Recomenda-se que a pessoa que a apresente tosse por 3 semanas ou mais, seja submetida a investigação por meio de exames bacteriológicos.
É natural que diante de um paciente com quadro subagudo de tosse, febre em especial vespertina e perda ponderal, pensemos em tuberculose. A hipótese fica mais provável ainda quando há alterações radiológicas compatíveis (como cavitações, árvore em brotamento, etc).
Esse foi o caso do paciente da figura acima, que felizmente, apresentou boa resposta terapêutica com esquema RIPE.
Entretanto, nem todos os casos serão clássicos como esse apresentado. Sabe-se que a tuberculose pulmonar é a forma mais frequente da doença e a de maior importância do ponto de vista de saúde pública, devido à possibilidade de transmissão. Portanto, a busca ativa de sintomáticos respiratórios é uma medida fundamental, não somente para diagnóstico e tratamento individuais, uma vez que a morbimortalidade é significativa, mas também para controle e erradicação da doença.
Autor: Gustavo Aliano Gâmbaro, médico do Paciente 360.
Referências Bibliográficas
Gurgel CBFM. A tuberculose na história. Boletim da FCM. 2019.
Ministério da Saúde. Manual de Recomendações e Controle da Tuberculose no Brasil. 2º edição. 2022.
Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico Coinfecção TB-HIV 2022. 2023