Esse é o nosso primeiro texto do Blog Paciente 360.
Iremos, mensalmente, publicar um texto informativo breve e de fácil leitura sobre um tópico de educação na saúde. Nossa intenção é democratizar o acesso a esse conhecimento e promover uma prática educacional baseada em evidências (1).
Hoje, escolhi falar sobre a Taxonomia de Bloom.
Por que essa escolha?
Vínhamos fazendo alguns vídeos sobre Educação Médica baseada em Competências (logo, logo sai um texto sobre esse tópico também!) e, naturalmente, quando lemos sobre esse tema, esbarramos com a Taxonomia de Bloom.
A Taxonomia de Bloom surgiu como a proposta de sistematização e organização dos objetivos educacionais (2). A estruturação dos objetivos educacionais esperados para determinada atividade na área da educação é fundamental para que todos os atores sociais envolvidos no processo tenham consciência do que se pretende alcançar com a trajetória dos alunos. Isso aumenta a transparência, permite maior accountability e orienta a escolha e calibragem das ferramentas avaliativas (3, 4).
E como surgiu a Taxonomia de Bloom?
Considerando as dificuldades inerentes à avaliação sem objetivos pré-determinados, em 1948, na reunião anual da American Psychological Association (APA), representantes de universidades propuseram a criação de uma comissão multidisciplinar para organizar um sistema de classificação dos objetivos educacionais (2).
Inicialmente, os avaliadores dividiram os objetivos educacionais em 3 domínios:
- Cognitivo (Saber): domínio referente ao conhecimento adquirido;
- Psicomotor (Fazer): domínio referente às habilidades manuais, e comunicativas verbais e não-verbais;
- Afetivo (Ser): domínio referente ao profissionalismo e atitude afetiva.
Foi nesse momento que o famoso Conhecimento, Habilidade e Atitude (CHA) surgiu. Os objetivos educacionais deveriam explorar esses três domínios para permitir o desenvolvimento de competências de forma global.
O grupo coordenado por Bloom ficou responsável por explorar o domínio cognitivo.
Aqui já vemos um ponto importante que caracteriza o framework desse sistema de classificação: é um sistema analítico. Ou seja, quando pensamos nos pontos de desempenho que desejamos que os alunos alcancem, a Taxonomia de Bloom pretende dividir esses pontos em pequenas partes. Isso se contrapõe a outras teorias de organização de competências, como os sistemas sintéticos, mas isso iremos abordar em um próximo momento, quando inclusive poderemos comentar os pontos fortes e as limitações de cada modelo (5).
Em 1956, o grupo coordenado por Bloom publicou o texto Taxonomy of Education Objectives – The classification of educational goals. Handbook I: Cognitive domain (6). Bloom, Englehart, Furst, Hill, e Krathwohl elencaram seis níveis hierarquizados.
Alunos desenvolveriam maior nível cognitivo quando exploram níveis mais elevados na taxonomia. Assim, quando queremos definir objetivos educacionais, a depender do momento do curso e da nossa proposta pedagógica podemos querer que os alunos definam, expliquem ou até identifiquem certos conceitos; mas em outro momento, quando estiverem com bases mais sólidas e com os conceitos mais introjetados, podemos desafiá-los a analisarem situações, proporem soluções e até julgarem decisões criticamente.
E como eu uso a Taxonomia de Bloom?
No momento do meu planejamento educacional, para elaborar meus objetivos educacionais, a dica é começar com verbos!
Pense inicialmente no que você espera dos seus alunos ao final daquela atividade e use o verbo mais adequado para isso.
Aqui, deixo uma lista de verbos e sinônimos para cada nível taxonômico (2):
Avaliação → Julgar, Argumentar, Comparar
Síntese → Planejar, Propor
Análise → Analisar, Classificar
Aplicação → Resolver, Desenvolver
Compreensão → Explicar, Resumir, Ordenar
Conhecimento → Definir, Saber, Listar
Lembre-se de que os objetivos devem ser específicos, mensuráveis e atingíveis no tempo daquela atividade. Em breve iremos fazer um texto específico sobre como escrever seus objetivos de forma eficaz e dinâmica.
No mês que vem, iremos comentar sobre a revisão da Taxonomia de Bloom e como ela passou de uma pirâmide para uma tabela bidimensional!
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Autor: Ahmed Haydar
Referências
- Harden RM, Grant J, Buckley G, Hart IR. Best Evidence Medical Education. Adv Health Sci Educ Theory Pract. 2000 Mar 1;5(1):71–90.
- Petrillo RCP. ENADE e taxonomia de Bloom: Maximização dos resultados nos indicadores de qualidade. Freitas Bastos Editores; 2017. 237 p.
- Harden, R. M., Crosby, J. R., & Davis, M. H. (1999). AMEE Guide No 14: Outcome-based education: Part 1—An introduction to outcome-based education. Medical Teacher, 21, 7–14.
- Morcke AM, Dornan T, Eika B. Outcome (competency) based education: an exploration of its origins, theoretical basis, and empirical evidence. Adv Health Sci Educ Theory Pract. 2013 Oct;18(4):851–63
- Pangaro L, ten Cate O. Frameworks for learner assessment in medicine: AMEE Guide No. 78. Med Teach. 2013 Jun;35(6):e1197–210.
- Bloom BS, Krathwohl DR. Taxonomy of Educational Objectives: The Classification of Educational Goals. Longmans, Green; 1956. 207 p.